17 de novembro de 2012

A poetisa...esquecida.




Francisca Júlia.

Há pouquíssimos que conhecem a leveza da escrita da poetisa. Na “Academia” quase não se fala dela, muito menos nos livros didáticos. Em uma sociedade de forte marca patriarcal, ela precisou assinar com nome masculino, muitos de seus escritos.
E se ela tivesse sido homem, estaria figurando ao lado da trindade parnasiana: Olavo Bilac, Raimundo Correia e Alberto de Oliveira?
Ela não tinha a banalidade recorrente das mulheres poetisas. Parnasiana, foi elogiada por Bilac e aclamada pelo público, mostrando que mulher também podia escrever poesias de qualidade. Foi aclamada por seus versos perfeitos, mas Francisca não é só isso.

A pintura acima, traz uma mulher espiritual, bem diferente da sensual Vênus. A obra intitulada “O nascimento de Vênus”, 1482-83 - na imagem de Botticelli, a deusa representa o amor contemplativo, não a sedução. Com rosto de menina e corpo de mulher, representando o impassível- a Musa de Francisca.
 Marli Carmen


MUSA IMPASSÍVEL I


Musa! um gesto sequer de dor ou de sincero
Luto jamais te afeie o cândido semblante!
Diante de um Jó, conserva o mesmo orgulho, e diante
De um morto, o mesmo olhar e sobrecenho austero.

Em teus olhos não quero a lágrima; não quero
Em tua boca o suave o idílico descante.
Celebra ora um fantasma anguiforme de Dante;
Ora o vulto marcial de um guerreiro de Homero.

Dá-me o hemistíquio d'ouro, a imagem atrativa;
A rima cujo som, de uma harmonia crebra,
Cante aos ouvidos d'alma; a estrofe limpa e viva;

Versos que lembrem, com seus bárbaros ruídos,
Ora o áspero rumor de um calhau que se quebra,
Ora o surdo rumor de mármores partidos.





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