O conto de Machado é sobre quatro ou cinco cavalheiros
que discutiam acerca de várias questões da alta transcendência. Jacobina era o quinto personagem que ficava
sempre calado, cochilando, por isso o autor diz quatro ou cinco, sem saber se a
presença dele contava. De repente, um
deles pediu a Jacobina sua opinião e ele disse que daria desde que fosse sem
conjuntura, sem opinião, sem nenhuma interrupção. E é assim que ele começa e fala que há duas
almas, uma que olha de dentro para fora e outra que olha de fora para dentro. E
para contextualizar isso ele começa a contar uma história de quando ele tinha
lá seus 25 anos de idade e ele passa num concurso para se tornar alferes que
hoje em dia corresponde a segundo-tenente, não é lá um cargo tão alto, mas
também não é baixo. E isso também desperta a inveja de alguns que pensaram que
dentre tantos, por que ele foi escolhido no concurso. Mas também começam as
bajulações e no lugar de chamá-lo pelo nome, o chamam de Alferes pra cá,
Alferes pra lá. Até que um dia ele vai na casa de uma tia e ela não o deixa ir
embora, pelo menos quer que ele fique por lá um mês. E coloca no seu quarto um
espelho, que já estava velho, mas era muito nobre. Era o que tinha de mais
nobre na fazenda. Um belo dia, a filha dessa tia fica muito doente e ela
precisa ir imediatamente cuidar da filha que está entre a vida e a morte e
deixa seu sobrinho Jacobina lá com os escravos que aproveitam que a Senhora não
está e escapam, deixando o Jacobina totalmente sozinho na casa.
E depois de já não ter mais nada para fazer, a gente
sabe bem o que é isso nessa quarentena, não é? Bem, ele vai lá e se olha no
espelho e não se vê bem. Então, num outro dia ele decide colocar sua farda de
Alferes e nesse momento, ao olhar no espelho, ele se vê, se vê completo e muito
bem. E ali ele se dá conta de que que a alma externa dele tomou conta da alma
interna dele. Que seria o Alferes se tornou mais importante que ser Jacobina.
Era o posto que ele exercia e não o homem.
Vocês já perceberam quantas vezes somos julgados pelo que exercemos, por
exemplo? Se você é catador de lixo a sociedade vai te tratar de uma maneira, se
você é advogado será de outra. Nós não
somos Maria, Ana, Clara, José, Antônio, Marcelo, nós somos para a sociedade o
pedreiro, a médica, a empregada doméstica, o Juiz, o garçom, somos o jovem
tatuado, o idoso apesentado que fica sentado todo o dia na praça da cidade.
A nossa alma interior é desconhecida, ou talvez, nem
importe.... mas deveria.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigada por sua visita e por seu comentário!
Beijinhos!