19 de junho de 2020

Conto: O Espelho de Machado de Assis.




O conto de Machado é sobre quatro ou cinco cavalheiros que discutiam acerca de várias questões da alta transcendência.  Jacobina era o quinto personagem que ficava sempre calado, cochilando, por isso o autor diz quatro ou cinco, sem saber se a presença dele contava.  De repente, um deles pediu a Jacobina sua opinião e ele disse que daria desde que fosse sem conjuntura, sem opinião, sem nenhuma interrupção.  E é assim que ele começa e fala que há duas almas, uma que olha de dentro para fora e outra que olha de fora para dentro. E para contextualizar isso ele começa a contar uma história de quando ele tinha lá seus 25 anos de idade e ele passa num concurso para se tornar alferes que hoje em dia corresponde a segundo-tenente, não é lá um cargo tão alto, mas também não é baixo. E isso também desperta a inveja de alguns que pensaram que dentre tantos, por que ele foi escolhido no concurso. Mas também começam as bajulações e no lugar de chamá-lo pelo nome, o chamam de Alferes pra cá, Alferes pra lá. Até que um dia ele vai na casa de uma tia e ela não o deixa ir embora, pelo menos quer que ele fique por lá um mês. E coloca no seu quarto um espelho, que já estava velho, mas era muito nobre. Era o que tinha de mais nobre na fazenda. Um belo dia, a filha dessa tia fica muito doente e ela precisa ir imediatamente cuidar da filha que está entre a vida e a morte e deixa seu sobrinho Jacobina lá com os escravos que aproveitam que a Senhora não está e escapam, deixando o Jacobina totalmente sozinho na casa.
E depois de já não ter mais nada para fazer, a gente sabe bem o que é isso nessa quarentena, não é? Bem, ele vai lá e se olha no espelho e não se vê bem. Então, num outro dia ele decide colocar sua farda de Alferes e nesse momento, ao olhar no espelho, ele se vê, se vê completo e muito bem. E ali ele se dá conta de que que a alma externa dele tomou conta da alma interna dele. Que seria o Alferes se tornou mais importante que ser Jacobina. Era o posto que ele exercia e não o homem.  Vocês já perceberam quantas vezes somos julgados pelo que exercemos, por exemplo? Se você é catador de lixo a sociedade vai te tratar de uma maneira, se você é advogado será de outra.  Nós não somos Maria, Ana, Clara, José, Antônio, Marcelo, nós somos para a sociedade o pedreiro, a médica, a empregada doméstica, o Juiz, o garçom, somos o jovem tatuado, o idoso apesentado que fica sentado todo o dia na praça da cidade.
A nossa alma interior é desconhecida, ou talvez, nem importe.... mas deveria.

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